quinta-feira, julho 27, 2006

Balance


O livro “A insustentável leveza do ser”, de Milan Kundera, me trouxe alguns pensamentos. Acredito que a metáfora do peso e da leveza possa ser flagrada em diversas situações. Portanto, ao longo do livro, conforme me aprofundava no universo inventado de seus personagens, de suas escolhas únicas e de seus desígnios intrigantes, vi meus pensamentos tragados pela metáfora, que pareceu habitar minhas próprias escolhas, coincidências, desígnios... Acho que essa é o grande trunfo da literatura. Por um certo tempo ela (ficção) transpõe as páginas estáticas e habita nosso universo real. E quando as palavras voltam a se encarnar no papel, ficam seqüelas. Mais ou menos profundas.

Pois bem, aqui está uma pequena transposição...

O que seria o melhor: o peso ou a leveza. Acho que primeiro deveria perguntar melhor para o que. Melhor para a felicidade do ser humano (ainda não consegui concluir esse conceito).

Acho que quando temos o relance do peso de nossas ações, temos também a visão do quanto somos culpados pela nossa condição. Condição esta de constante busca ansiosa, porque nunca nos contentamos com o que alcançamos e sempre achamos que há algo além a ser encontrado. Assim, penso que a busca ansiosa traduza o peso. Mas o relance do quanto nossas ações não são o suficiente para alcançar o nosso objeto de busca (pelo menos não o da busca constante e secreta) é um conhecimento. Conhecimento que tentamos deixar suspenso enquanto agimos, para que a crença, apesar do conhecimento, nos impulsione a agir, a viver. Por outro lado, sabermos que a busca é infinita também é um conhecimento, mas um conhecimento que traz uma certa leveza. Leveza triste é verdade, mas ainda assim leveza. Porque apesar de nossas ações quase sempre falharem na busca pelo objeto perfeito, pelo elixir da felicidade sem fim, descobrimos que esse elixir não existe. Isso faz com que nossas ações flutuem. Assim, na consciência dessa via dúbia, encontra-se um equilíbrio que nos permite viver sem a angústia de que cada suspiro pode nos tirar da busca por algo fictício. Compreender essa dualidade a cada instante é que deveria ser a real busca. A busca pela revelação constante de que o limite da nossa felicidade se encontra em nós mesmos. A busca, assim, é a busca por nós mesmos. É a busca pelo nosso melhor, talvez.