
Lia uma crônica de uma de suas escritoras favoritas. Sentada no metrô, tentava se distrair das notícias sórdidas que acabara de receber. Não queria entender o tiro, nem a bala, que não tinha sido capaz de ferir candura imensa. Enquanto isso, a querida autora falava sobre um tema adequado à sua ansiedade e angustia inexplicável, a morte.
Durante todo o dia convivera ela com uma dor profunda, que queimava meu ventre. Dor que lembrava uma ligação primitiva do ventre ao peito, mas que eu não sabia se saída do útero ou do coração. Seus pensamentos e intenções pareciam não caber no intelecto. Talvez em seu amor, mas não nessa inteligência que de nada serve para controlar a dor. Dor paradoxalmente deliciosa, eufórica, que a fazia querer nunca mais dormir, e conversar com as pessoas despertas, ou com os apreciadores de café na madrugada.
A bala, no entanto, permanecia latente nessa dor. A bala e a candura inabalável. Ao comentar o seu medo da morte, a cronista de primeira viagem disse que se houvesse encarnação, a vida que vivia não lhe pertenceria. Disse também que na próxima encarnação leria seus livros como uma leitora comum e interessada. E conforme ela lia as palavras encarnadas, teve um espanto. Seu corpo pesou no banco do metrô. A dor havia desaparecido, como se ela tivesse morrido. Como se a bala atingisse o cerne da dor pré-histórica. A escritora disse que queria um aviso a respeito do que encontraria depois da morte. Pois bem, acabara de ter esse aviso. Sua alma já sabia, mas a pessoa nova não. A consciência formal nunca tinha entendido. Mas a bala, agora, atingira seu alvo místico.
Durante todo o dia convivera ela com uma dor profunda, que queimava meu ventre. Dor que lembrava uma ligação primitiva do ventre ao peito, mas que eu não sabia se saída do útero ou do coração. Seus pensamentos e intenções pareciam não caber no intelecto. Talvez em seu amor, mas não nessa inteligência que de nada serve para controlar a dor. Dor paradoxalmente deliciosa, eufórica, que a fazia querer nunca mais dormir, e conversar com as pessoas despertas, ou com os apreciadores de café na madrugada.
A bala, no entanto, permanecia latente nessa dor. A bala e a candura inabalável. Ao comentar o seu medo da morte, a cronista de primeira viagem disse que se houvesse encarnação, a vida que vivia não lhe pertenceria. Disse também que na próxima encarnação leria seus livros como uma leitora comum e interessada. E conforme ela lia as palavras encarnadas, teve um espanto. Seu corpo pesou no banco do metrô. A dor havia desaparecido, como se ela tivesse morrido. Como se a bala atingisse o cerne da dor pré-histórica. A escritora disse que queria um aviso a respeito do que encontraria depois da morte. Pois bem, acabara de ter esse aviso. Sua alma já sabia, mas a pessoa nova não. A consciência formal nunca tinha entendido. Mas a bala, agora, atingira seu alvo místico.