domingo, junho 18, 2006

Esses são textos de um antigo blog, mas fiquei com dó de jogar fora...
Coragem redobrada nesse começo de mês é o que dizia o horóscopo de primeiro de maio. Maio. Sempre um mês inesquecível, de emoções fortes que deixam seqüelas e se prolongam por muito tempo. Assim como a flor, floresço todo maio... E fico por todo o ano tentando resgatar a sensação de ter florescido. Mas esse maio parece diferente. Sem esperanças puras, sem montanha russa e sonhos aterradores. Parecem vazios esses ventos. Parecem somente frios, fazendo tencionar os ombros sem perceber, gelando meus dedos até que a me torne roxa sob a pele. De onde brotará essa coragem, meu deus. Só se for do pouco de calor que ainda me resta no profundo da carne, pois a superfície gela. Um gelo puro, de cavernas úmidas e imaculadas. De águas densas do mar longínquo. É de lá que aparecem os polvos fantásticos, que cuidam de seus ovos e se esquecem de sua própria fome. Por fim, morrem. Talvez não pressintam a morte, conforme suas entranhas se esvaziam e sentem o oco pesar mais do que o próprio mar. E é daí que me brota a coragem para mais um maio. Porque é quente essa coragem.

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Sim, Bowie é estupidamente bom. Hoje me lembrei de como sua voz, que se funde ao submundo da mente, diferente, faz com que o espírito que conheço se revolte dentro desta caixa; pequena caixa que é o meu corpo. Ele quer sair, extrapolar desconcertos, memórias. Seu âmago quase sexual não se identifica com a cor branca. Ansiedade, comoção verde, orgasmo verde do espírito. Somente os traços, reflexos verdes em meus olhos denunciam a evasão de algo um tanto misterioso, insensato. Sim, Bowie é estupidamente emocionante, comovente, insólito, inexplicável, transcendente... Energia sápida.

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Este quadro não é pessoal. Se o fosse, eu provavelmente teria pintado a mim mesma, de costas, como na foto. As sombras nas asas e nos braços, a mão desfocada. O fundo azul, como teria feito asas azuis. O professor mandou-lhe lembranças

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Hoje acordei e vi arte, assim como eu. Está escuro. Não estou certa das horas. Da varanda, sinto vontade de mergulhar e agarrar os carros que passam como se fossem ondas. Lanternas acesas mancham o asfalto de amarelo. As árvores batem palmas para o mundo; suas folhas se encontram em choque voraz. Ouço o seu estapear. Agora parece tão perto. A quanto tempo não sinto o mundo com todos os sentidos, em todos os sentidos... De fora a dentro, de dentro a fora. Quando o do mundo passou? sem que eu estivesse atenta a explosões. Sem que eu só atentasse para dentro de mim e de minhas tentações. A própria noite é tão paradoxal. Recordo-me de ter tido medo da noite por ela me lembrar de desejos profundos, tornar os segundos mais segundos e me tirar as forças para realizá-los, os desejos e os segundos. Torna-los tão essenciais quanto inertes e intransponíveis. Sinto o vento me percorrendo como se meu corpo fosse uma folha de árvore que se debate. Minha barriga está fria. Longe, mas não tão longe uma criança ri. É como se risse dentro de mim.

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Saci

Olha o Saci!
Sacizando por aí
Sacizagens ao meio-dia
Salga o feijão de Dona Maria
Sacizagens à meia-lua
Fazendo arte na rua
E o negrinho some aos olhos da criança,
conforme o tempo vai tendo mais importância.
Cada centímetro que ela ganha,
o Saci perde.
E vai ficando pequenininho...
Até que fica tão pequeno,
que vem morar no coração da gente.
Agora me perguntam:
Você já viu um Saci?
Mas é claro que vi?
Não só vi como tenho um
Aqui dentro desta garrafa insólita
deste lance de memória onde guardo minha infância.


Feliz dia do Saci para todos!!!


Entre bruxas e sacis MARCIA CAMARGOS e VLADIMIR SACCHETTA Folha 31/10/2005

No mundo globalizado, ridículo não é acreditar no saci e em tudo o que ele expressa. Lamentável é se fantasiar de bruxa

Para quem ainda não sabe, 31 de outubro é o Dia do Saci, oficialmente instituído em São Paulo nos âmbitos municipal e estadual. Os projetos de lei de Aldo Rebelo e Ângela Guadagnin para estender a data a todo o território nacional tramitam em conjunto na Câmara dos Deputados e despertam muita polêmica. Alguns alegam que diante das chamadas pautas de relevância pendentes na agenda do Congresso eles soam supérfluos, exóticos ou até mesmo risíveis. A esses, lembramos que o processo legislativo democrático pressupõe iniciativas sobre os mais diversos temas que, só depois de avaliadas em sua pertinência e constitucionalidade, viram leis. Quanto ao Dia do Saci, já aprovado pela Comissão de Educação, é fundamental entender o que está por trás dele. A idéia da sua criação partiu do grupo que em 2003 fundou a Sosaci (Sociedade dos Observadores de Saci) para resgatar nossos mitos e difundir o folclore. E a escolha do 31 de outubro não ocorreu por acaso. Numa estratégia para confrontar o Dia das Bruxas, que tem ocupado com força crescente espaços do imaginário, pretende sensibilizar pais e educadores sobre a necessidade de (re)descobrirmos as tradições populares, oferecendo às crianças e jovens alternativas lúdicas e divertidas. Símbolo de resistência aos estrangeirismos, o saci congrega elementos multirraciais que configuram o povo brasileiro. Nascido tupi-guarani há 200 anos na zona fronteiriça com o Paraguai, incorporou feições africanas e um pito de preto velho no contato com os escravos. E, se perdeu uma perna para representar o ser humano mutilado pela violência do cativeiro, ganhou o piléu vermelho, emblema da liberdade na Roma antiga -que se converteria no barrete frígio adotado pelos republicanos após a Revolução Francesa de 1789. Já o Halloween tem origem nos rituais do norte da Europa que celebravam o final das colheitas, antecedendo um longo período de inverno, quando os celtas invocavam seus ancestrais e homenageavam os mortos. Com o tempo, a Igreja Católica absorveu o festival pagão, convertendo-o em Dia de Todos os Santos (All Hallows" Eve), seguido por Finados. Restrito à cultura anglo-saxônica, o Halloween ganhou popularidade no século 19 com a imigração irlandesa para os EUA e começou a ser comemorado no Brasil há cerca de 20 anos, principalmente nas escolas de inglês. Logo tomou os colégios particulares, a rede de ensino pública e as lojas, que passaram a suprir um mercado ávido por produtos e modismos importados. Esse hábito de "macaquear" o que vem de fora foi detectado por Monteiro Lobato já nas primeiras décadas do século 20, quando Paris se impunha como modelo. Em artigos inflamados, o escritor não se cansava de denunciar o desenraizamento cultural do país, chamando a atenção para a estatuária de ninfas, faunos e anõezinhos nibelúngicos nos parques públicos como o Jardim da Luz, no centro da capital paulista, em lugar de boitatás, iaras ou sacis. Ciente da importância do saci como portador de múltiplas significações, Monteiro Lobato realizou em 1917 uma pesquisa para estabelecer os contornos antropológicos do "insigne perneta". As conclusões foram lançadas em livro na fase mais cruenta da Guerra Mundial que assolava a Europa, paradigma de civilização aos olhos da elite intelectual da época. Contrapondo à barbárie do conflito um personagem negro, travesso e de uma perna só, "O Saci Pererê: Resultado de um Inquérito" vinha, segundo Monteiro Lobato, despertar consciências adormecidas. Assim como o Jeca Tatu, síntese de um heroísmo silencioso que morre, mas não adere, o saci seria revelador da alma de nossa terra e da nossa gente. Nunca é demais salientar que referências mitológicas ajudam a firmar a identidade de uma nação. Contribuem para costurar a memória coletiva, reforçar os liames do tecido social, mostrando que fazemos parte de um todo, que temos uma história em comum. Na medida em que imitamos efemérides de outras culturas de maneira simplória, nos tornamos vulneráveis. Não se trata aqui de endossar posturas xenófobas, mas sim de reivindicar uma troca de mão dupla, que inclui a possibilidade de povoar com sacis o Central Park de Nova Iorque e o Hyde Park de Londres. E, a exemplo de Oswald de Andrade, promover um grande ritual antropofágico de deglutição das abóboras, que traduzem o que há de pior na geopolítica do novo milênio. No mundo globalizado, ridículo não é acreditar no saci e em tudo o que ele expressa. Lamentável mesmo é se fantasiar de bruxa, em uma atitude de submissão ao colonialismo enlatado, sedimentando o que Silvio Romero dizia se tratar de nosso maior mal: pretender ser o que não somos, trazendo, em contrapartida, o desconhecimento de nós mesmos.

Marcia Camargos, 50, doutora em história social e escritora (camargos@plugnet.com.br) e Vladimir Sacchetta, 54, jornalista e produtor cultural (sacchett@plugnet.com.br), são biógrafos de Monteiro Lobato e fundadores da Sosaci (Sociedade dos Observadores de Saci). www.sosaci.org.br

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Faltam 3 horas para eu retornar à minha rotina dominical. Assistir "Queer eye for a straight guy", com a minha mãe! Isso para mim é um tanto insólito, porque esse programa nem sempre teve esse significado, mas tudo bem, as coisas mudam de significado mesmo. Ela achou engraçado da última vez em que assistimos... Programa de mãe e filha, sabe? Às vezes é bom. Gosto da companhia dela para essas veleidades. Enquanto isso eu curto um pouquinho da tarde de domingo... Não gosto do domingo. Não sei explicar, mas raros são os domingos em que tenho um bom dia. Agora, estou ouvindo Billie, mais especificamente "These foolish things". "A cigarette that bears a lipstick's traces An airline ticket to romantic places And still my heart has wings These foolish things remind me of you" E me lembro de algumas pessoas. Nostalgia boa... Como se trouxessem essas pessoas para perto. Como a vida é boa. Tenho pena de quem não vive direito. Que não se lembra de "coisas" com as músicas. Conheço muitas pessoas assim. Triste. Cada coisa que agente lembra! Pode ser até um movimento com a cabeça, um sorriso, uma careta engraçada, o som de uma risada gostosa. As pessoas são repletas dessas "coisas". Isso tem tanta graça! É tão bom observar esses detalhes. E eles são tão difíceis de descrever. Pense em alguém tente descrever. Não, nunca sua descrição toca esses pontos. Nunca pensamos: essa pessoa quando fica pensativa, torce a orelha... Ou, aquela quando dorme mexe os pés. Pensamos coisas do tipo, "loiro, alto de olhos azuis". E o que é mais interessante é que alguém nunca se descreve com essas características. Porque ela geralmente não as percebe em si mesma, ou então já está tão acostumada... Acho que somente quem está de fora pode ver. Um dia meu pai disse que tenho o "andar" bonito. Ele disse que me viu na rua de longe e, sem me reconhecer, pensou "nossa, aquela moça de que anda tão bonito parece a Vera (minha mãe)". Engraçado, né? Tenho sido cada vez mais sensível para essas características. Uma pessoa "feia" pode se tornar encantadora por esses traços deliciosos. Bom, encerrando, um convite! Amanhã, vai haver a comemoração do "Dia do Saci e Seus Amigos" na Vila Madalena, no bar Canto Madalena, a partir das 19hs. O endereço é Rua Medeiros de Albuquerque, 471. Com apresentação do Quarteto Pererê e do violeiro Zeca Collares. Sim, parece coisa de louco, mas é uma iniciativa muito legal da Sociedade dos Observadores de Sacis, que tenta resgatar o folclore brasileiro a partir da figura do Saci. Sem contar que os saciólogos são umas figurinhas carimbadas! Imperdível! Inté

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Ontem fui ao show do Moacir Santos. Lançamento do CD "Choros e Alegria". Nossa, foi uma delícia! Impressionante como a gente sempre acaba encontrando rostos familiares nos ambientes que freqüentamos. Por exemplo: no primeiro show do Moacir que eu fui, vi um cara que me parecia familiar. Mas até aí, posso tê-lo conhecido na outra vida ou coisa do tipo. Bom, outro dia, quando fui ao Ó do Borogodó, descobri que o cara trabalha lá... Fui com um amigo que deve ter encontrado pelo menos umas 10 pessoas conhecidas, de círculos sociais totalmente "nada a ver". Incrível como nos aproximamos de pessoas que têm os mesmos gostos que a gente, mesmo sem saber. É uma delícia descobrir essas coisas. Quando, por exemplo, descobrimos que um grande amigo gostou de ler aquele livro que você ama. Parece que se cria uma conexão, que a partir do momento que há essa descoberta recíproca nos comunicamos. Entendemos melhor, palavras não são nem mesmo necessárias. O livro, filme, música cumpre um papel de comunicação diferente do seu papel óbvio e direto, que é a comunicação do autor, compositor, pintor com seu público. A obra extrapola sua mera existência em tantos sentidos... Programas como o Orkut tiram um pouco dessa descoberta. Na verdade, você acaba descobrindo afinidades com as pessoas em um turbilhão de comunidades e informações. Uma pena. Não tem aquele famoso: "Não acredito que você gostou desse filme!" ou então "Você estudou na escolinha Movimento? Eu também!". É tudo automático. Um simples click e você sabe tuuuudo sobre a pessoa.Ou não... O que me consola é esse "ou não". Porque o click engana. Ainda bem. Ou engana ou então não diz tudo. O que é mais interessante. O click dá a imagem que a pessoa construiu para si. E isso é legal. Você sabe como a pessoa se vê. Não significa que você não possa vê-la de forma diferente. Bom, sei lá. Comecei com Moacir e terminei com teoria da comunicação criada pela minha mente fértil. Em todo caso, recomendo fortemente o show. Hoje eu vou de novo, com outras pessoas. Quem sabe não encontro outras pessoas familiares? Quem sabe não descobrimos novas afinidades. Então, até lá!

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[5/1/2006 20:02:32 Laura Uma viagem de quem não tem mais o que fazer... Da próxima vez prometo que mando um mais legalzinho, mas, faz parte... Olhava para o computador. A tela quente, branca. Uma nova mensagem "deseja ler agora?". Não, muito obrigada. De que adianta dizer obrigada. A tela nunca vai entender. Conversava com um computador. Só em mente, claro, porque caso contrário pensariam que estava louca. Pensamentos embriagantes. Tinha, de fato bebido um pouco no almoço, com os amigos. Só que os amigos tinham uma resistência maior, estavam acostumados. Ela não. Bebia "socialmente", fumava "socialmente" e muitas outras coisas fazia "socialmente". E agora, socializava-se com o computador. Não, não falava com ninguém "por meio" do computador. Era só a tela em branco. Seus pensamentos batiam e ficava a impressão de palavras na folha branca. Ou tela, imitando uma folha. Mãos no teclado, os dedos já habituados a compor a constante sinfonia de teclas. Todas as notas iguais. Só o ritmo acompanhava o ritmo dos pensamentos. Porque quando escrevemos no papel, não há barulho. Não há notas esparsas, iguais. Não consegue-se identificar o ritmo do pensar. No teclado isso já é possível. Assim como na máquina de escrever. Nem sempre o ritmo mais constante é o pensamento mais criativo. O ritmo mais constante pode revelar uma alienação com relação ao que se escreve. Um ditado, cópia de textos. Letras jogadas mecanicamente, mas para as quais não se procura um sentido.

Um comentário:

Anônimo disse...

Thanks :)
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