segunda-feira, julho 30, 2007


Arrebentação de vida. A chegada da noite, a hora em que todos dormem impõe o silêncio e a imobilidade, porque mover-se implica o estalar do assoalho frio, da madeira levantada. Os goles d’água que descem lentos e o crepitar dos sussurros vãos.

A cabeça, porém, arrebenta e fulgura. A cada instante as idéias ocorrem e no seguinte morrem. O papel está distante e a noite imaculada. A sensação da descoberta de palavras, sua sublime sonoridade e harmonia se perdem; e assim os corpos queridos respiram em uma cama de mortalidade.

Acontece então. Levanta-se. Profana a quietude do quarto. A treva se deforma, movendo-se a cada passo arrastado. Alcança o caderno dentro da bolsa, procura a caneta sobre a mesa. O movimento vai ganhando forma, cor e som em progressão contínua. Coloca os óculos e acende a luz tão fraca e agora tão forte. O mundo não acaba, só torna-se mais sólido.

A inconsciência, a criação onírica são estados belos e atemporais, todavia mortais como os homens. As palavras tão mais reais e sólidas podem se perpetuar, abandonando a trama mortal.

A mente não mais foge rapidamente. Aviva-se nas palavras escritas. E onde estão tantas idéias perdidas para que a noite não se penetrasse e rompesse? Estão junto às ondas que ameaçaram e não arrebentaram. Não atravessaram a vaga linha do impulso da arrebentação.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nada como o silêncio da noite pra um bate-papo com a alma.

Lindo!

Juliana disse...

Isso é muito eu... mas ando me sentindo tão oprimida que nem esse espaço me permito mais.... talvez, por isso, o blog.