quarta-feira, janeiro 14, 2009


Clarice, meu amor, acorde. Acorde e olhe para mim. E seu corpo reverberava o som dessas palavras. Eram o som em meio ao sono. Clarice nunca era acordada, mesmo porque sempre acordava antes de todos, ia até a varanda e comungava com os apreciadores de café na madrugada. Podia jurar que ninguém nunca a havia visto dormindo. Quando se aproximavam e ela sentia a presença, dissimulava um sono profundo. Sua ontologia nunca se desvendara para eles em seu sono. Assim, nunca seria conhecida a menos que morresse e então, salvo engano, não mais existiria. Talvez o homem que agora a acordava não existisse. Ou quem sabe ela não mais existisse. O fio do sono não se rompia e ela estava sendo vista. Mas não sabia e, quem sabe, isso não fosse o suficiente para saber que ninguém a via.
E assim, não era uma mulher de areia, mas de lua e da luz refletida nela. A lua só se revela quando faz refletir essa luz masculina do sol. Mas qual o problema de ela se ocultar?

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