quarta-feira, dezembro 30, 2009

Cerveja solitária


Que minha vida flutue nas asas deste álcool doce e amargo que corre em meu sangue. Bernardo Guimarães é ficha se comparado aos meus sonhos manchados de luz e de fogo. Pantagruélica sou eu em meu devaneio que contamina a tarde em que venho repousar. Só que meu cansaço não é físico, nem dengoso, é minguante da vontade de permanecer de pé, acordada para o mundo. Mundo familiar demais... Sempre os mesmos tipos neste bar e as mesmas lagartixas na areia. Pouco a pouco me consome, pouco a pouco eu consumo a cerveja que pedi e me é custoso terminar. Corre lenta em meu corpo, entorpece meu cérebro e meus pensamentos. 
Mudo de lugar para o canto que me é próprio, perto do ladrilho frio da parede. Pouco a pouco sinto a saúde encurtar e as forças se esvaírem, como num gozo frustrado. Não quero mais me levantar. Tire-me daqui, me seqüestre dessa impessoalidade culta e grande que me rodeia. Me leve para o calor de quem me ama e só assim estarei compreendida, poderei me mover lentamente e resmungar os detalhes desimportantes da vida carinhosamente. 
A cerveja que repousava inquieta pingou, eu a fiz pingar. Doce e estático sonho que estou vivendo. Tudo se move menos eu, exceto minha mão frenética, que produz símbolos cada vez mais ilegíveis. Quero ordem, quero cama, quero tudo que me faça voar em sonho e fúria. Parei.

Um comentário:

Anônimo disse...

Doce lembrança de um passado que pra mim sempre é presente.
Nunca fui bom com superações.
Falo do seu texto.