sexta-feira, março 16, 2007

Final de ovo...


Ela sentia mais um final. Tinha se esquecido de como os finais sentem. Sentia o clássico buraco, dos pés à cabeça um repuxar, no ventre, no peito, como se torcessem roupa lá dentro e uma fogueira de vontade pura. Sonhara a noite toda. Sonhava que dormia. Ao lado de seu amor nascituro. Mas nada de fim. Dentro dela estava longe do fim. Curioso como o fim não depende só das palavras que o decretam. Depende do que o peito sente. E dos sonhos que perpetuam aquela presença. Pode se dar por motivos diferentes, pode não ser propriamente o fim, todavia desperta o medo incansável. Incansável, apesar da luta pela liberdade de se esperar tudo. Liberta-me de pensar o futuro! – ela pensava. Faz-me não esperar o imprevisível. Mas o fim guarda dentro de si o começo inesperado. A metamorfose inconsciente de um ser que não sabe o que vai nascer de dentro dele. Metamorfose de ovo, que é a metáfora perfeita. Imprevisibilidade de ovo. O começo do que vem depois daquele ovo malemolente. Talvez a galinha, cada vez que bota um ovo, pense que vai acabar. Que o seu intenso mundo chegou ao fim. Pronto, missão cumprida! E surpresa quando ela se depara com o inineteligível fruto do seu botar. O ovo insiste em mover-se num gingado constante, imperceptível. E seu movimento, seu menor movimento faz a galinha lembrar e se perguntar. A lembrança é o gingado, da nostalgia e da esperança.

Um comentário:

Juliana disse...

Eu gosto do que você escreve.